O conceito de Má-Fé de Sartre [Existencialismo]

A má-fé de Jean-Paul Sartre

Em O Ser e o Nada, Sartre argumenta que a consciência é consciência de seu ser. Ele também argumenta que do que a consciência está consciente – isto é ‘ser’ – é que ela é o que não é. O que ele quer dizer com isso?

Para Sartre, a consciência humana é um ‘nada’ – é a única que não pode ser apontada como uma coisa no mundo, diferente de mesas, cadeiras, minhas mãos e pernas. A consciência é consciência de si mesma. É por esta razão que o fenômeno da má-fé mostra-se um dilema: se a consciência deve estar sempre consciente de si mesma, então como pode acontecer com as pessoas o tipo de dissonância que Sartre chama de ‘má fé’?

Quando uma pessoa mente para outra, a mentira é possibilitada pelo fato de que a consciência do mentiroso é escondida da pessoa que está sendo enganada. Mas como uma pessoa pode realizar o tipo de auto-engano necessário para estar em má-fé – para negar, em suma, que a consciência é o que não é?

Psicanálise divide a consciência em três categorias: a parte consciente e a inconsciente – id, ego e superego – trabalhando para causar pensamentos e ações. Má-fé acontece quando as coisas no inconsciente se expressam através de pensamentos e ações, permanecendo escondidas da consciência. Mas, para Sartre, isso não pode ser verdade. Isso ocorre porque o saber é saber que eu sei; a consciência é consciência de seu ser. Assim, para as pessoas caírem em má fé, elas devem estar conscientes da coisa que elas negam, assim como o desvio sexual é consciente de seus desejos. Assim sendo, a postulação dos psicanalistas sobre ego e id é falsa: a consciência existe como uma unidade, e isso é porque – para voltar a premissa de Sartre – consciência é a consciência do seu ser.

Exemplos de má-fé

Para ajudar a ilustrar o conceito de má-fé, Sartre usa o exemplo de um jovem que tem um emprego como garçom. Um garçom, ao contrário de uma mesa ou uma cadeira, não existe além do abstrato. Certamente, há um conjunto de ações que associamos com ser um garçom, mas não há nada no que é ser um garçom como o que há em ser uma cadeira (que tem quatro pernas e é construída por seres humanos para se sentarem) . ‘Um garçom’ não existe e, portanto, não pode ser; mas o jovem faz ‘ser um garçom’ como ‘ser uma cadeira’, e ao fazê-lo trata de experimentar a si mesmo como um objeto. Ao fazer isso, ele nega que a consciência é o que não é, ou seja, que não pode ser qualquer coisa. O jovem molda si mesmo como um garçom, que ele torna-se para uma espécie de objeto, e ao fazer isso pratica má fé.

O segundo exemplo que Sartre usa é o de uma mulher em um encontro, que descobre que o homem colocou a mão em sua mão em uma tentativa de tornar seus sentimentos conhecidos. Ao invés de agir, e por tanto o retirar ou manter a mão onde está, ela experimenta a si mesma como pura transcendência,  como a parte da consciência que é livre a qualquer momento para agir em qualquer número de possibilidades. Ao negar que ela existe como uma coisa no mundo – uma coisa para os outros, usando a terminologia de Sartre – ela está cometendo má fé. Ao contrário do garçom, ela não está negando que a consciência é um nada (não pode ser qualquer coisa); em vez disso ela está negando quem ela é para os outros. Naquele momento, ela experimenta-se como puro nada.

Transcendência e facticidade

Tanto o garçom quanto a mulher no encontro estão em má fé, mas eles caem em má-fé negando coisas diferentes. Sartre cunha dois novos termos para descrever os aspectos da consciência que eles negam: transcendência e facticidadeO garçom, no sentido de tornar-se um objeto, nega a sua transcendência – que ele não pode ser qualquer coisa, porque a consciência não é o que é. A mulher no encontro, por outro lado, nega sua facticidade; o que quer dizer que ela nega que ela é uma coisa para os outros: alguém que nasceu neste ou naquele tempo, em este ou naquele país, com certo conjunto de pais; e moldou-se até aquele momento pelas ações que ela desejou.

Esta divisão da consciência em dois aspectos – transcendência e facticidade – permite dar uma explicação da má-fé. Nota-se que embora separados, transcendência e facticidade devem ser unificados em uma consciência global. Quando comete má fé, não é que ela não sabe o que está fazendo (como os psicanalistas argumentam), mas que ela dirige e experimenta-se como esta ou aquela coisa (seja pura transcendência; um nada, ou facticidade – um conjunto de qualidades definidas como a de um objeto).

Pode ser afirmado que o antídoto para a má-fé é a sinceridade – basta ser você mesmo em vez de tentar ser algo ou nada. Mas há contradição nisso, também. Você não pode ‘ser você mesmo’ se não há nada para ser. Por esta razão, mesmo sinceridade – o esforço para ser quem você realmente é – resulta em má fé.

A Ética empirista de Hume (Vídeo)

A teoria ética de David Hume chama atenção pelo empirismo radical. A moral humeana não é baseada na razão, ao contrário do que defendiam muitos pensadores desde Sócrates.

Entenda melhor assistinto ao 2º vídeo do nosso canal no Youtube. Inscreva-se e ative o “sininho” para receber notificações sempre que saírem novos vídeos 🙂

A Felicidade para São Tomás de Aquino

Por Alexandro Foletto*

São Tomás de Aquino foi um importante filósofo, teólogo e padre dominicano do século XIII. É conhecido como um dos principais expoentes da escolástica (linha filosófica de base cristã). Buscou aplicar a filosofia clássica (principalmente de Aristóteles) para compreender a visão religiosa do cristianismo, sendo assim, vários são os temas abordados por esse pensador e um desses assuntos é a felicidade.

São Tomás de Aquino desenvolve o tema da felicidade tendo em vista que a vida humana possui um fim, ou seja, tem um objetivo ultimo ao qual denomina-se bem-aventurança, sendo, essa que fornece o sentido para a conduta do homem.

Após avaliar as concepções de felicidade recorrentes em sua época, observou que havia diversas correntes que identificavam a beatitude como posse das riquezas, como honra, como poder e como prazeres do corpo entre outros. Todavia, pode-se assegurar que Santo Tomás as considerou como meios e ou critérios não apropriados para conceber uma vida feliz, pois esses meios conduziriam à uma ilusão, uma falsa percepção de felicidade.

Vale ressaltar que Tomás de Aquino identifica a felicidade completa com a beatitude, sendo que nesta vida, a felicidade completa não está ao alcance dos homens, isto é, nesta vida, só é possível uma felicidade parcial e incompleta e para salientar esse pensamento, faz uma análise de cada uma das filosofias vigentes acerca da felicidade em seu tempo.

De início coloca a bem-aventurança como consistindo em riquezas e para analisar de forma coerente faz uma divisão entre riquezas naturais e riquezas artificiais:

Aquelas (riquezas artificiais) são as que o homem busca para satisfazer suas necessidades naturais, como a comida e a bebida, os vestuários, os transportes, a habitação e outras semelhantes. Estas são as que não provêm da natureza, em sim mesmas, como o dinheiro, mas que a arte humana inventou para facilitar as trocas e são como a medida das coisas veniais. (Suma Teológica I-II, q.2, a.1)

Mesmo ampliando a ideia de riqueza e fazendo certa distinção entre ambas, o Doutor Angélico não as reconhece como verdadeira fonte de felicidade, afinal a riqueza não possui uma finalidade em si mesma, pois, quem a busca tem em vista a (aquisição) de algo, ou seja, são meios para atingir certos fins, por exemplo, o investimento feito em comida tem em vista a preservação da vida e da mesma forma segue com o dinheiro e tantas outras coisas. No entretanto, a bem-aventurança tem seu valor em sim mesma e não depende exclusivamente de riquezas.

Outro caso abordado por Santo Tomás é o que diz respeito a honra, seria ela sinônimo de bem-aventurança? Assim como acontece com a riqueza aplica-se a honra, dessa forma, o valor da honra tende mais para o lado de quem a confere do que para aquele que a recebe, isto é, no caso da fama (honra) é preciso haver reconhecimento de outros para assim atribuir certo testemunho que reconhece alguma excelência do honrado, ou seja, não possui razão de ser em si mesmo e pode dirigir-se tanto para o bem como para o mal, algo indispensável à beatitude é ser exclusivamente voltado ao bem.

O poder também aparece como contrário a bem-aventurança, pois não evita angustias ou preocupações, ainda o poder pode ser usado para o mal, é bom que quem detém poder o use em prol do povo, assim é péssimo usar para o mal, em suma, a felicidade completa não pode aceitar a existência de mal, porque ela se contradiz com o bem perfeito e infinito e sabemos que, nesta vida, não há a possibilidade de viver totalmente livre dos males, tanto dos males do corpo, como a sede, a fome e a doença ou até dos males da alma, como a ira, o orgulho, ou a inveja.

Os prazeres corporais também não são estão associados a finalidade última do homem, pois revelam-se voltados a fins secundários, por exemplo, os prazeres da comida são meios para a preservação da vida e os prazeres sexuais para a procriação. Portanto, conclui-se que a inclinação do homem para a felicidade não se realiza por completo nas coisas deste mundo, pois nelas se encontra apenas uma parte do bem. O conjunto de todos os bens se encontra em Deus, que acalma por completo esse anseio por felicidade do homem, não havendo mais nada além para desejar.


* Acadêmico do quinto semestre do curso de Filosofia em Santa Maria RS.

E-mail: alexandrofoletto1996@gmail.com.

Schopenhauer e os 3 critérios para a Felicidade

Quais são as fontes da felicidade na Filosofia?

Arthur Schopenhauer tentou aprofundar a filosofia prática de Kant em seus aforismos para a sabedoria da vida [compre aqui]. Neste tipo de breviário moderno de sabedoria, como Schopenhauer toma emprestado veteranos ( Sêneca, Epicteto ) e filósofos modernos ( Kant, Fichte ).

Conteúdo

  • 1. Schopenhauer e os 3 critérios da felicidade: ser, ter e aparência
  • 2. A definição de felicidade por Schopenhauer
  • 3. Para ir mais longe com Arthur Schopenhauer

1. Schopenhauer e os 3 critérios de felicidade: ser, ter e aparência

Schopenhauer diz que 3 condições explicam as diferenças na felicidade entre as pessoas:

  1. O que somos: personalidade (o critério mais importante)
  2. O que temos: riqueza e ativos (é necessário um mínimo de posses para ser feliz)
  3. O que nós representamos: fama, posição, honra.

1 / O que somos:

Saúde é a condição sine qua non da felicidade. Ser é o que mais importa e “acompanha-nos ao longo da vida” (ao contrário de riqueza ou reputação que podem mudar).

Schopenhauer distingue dois tipos de homens: o homem normal e homem intelectual.

– Para o homem normal, a vida é para passar o tempo para aumentar sua riqueza externa. No entanto, é efêmera, já que sua vida é uma eterna insatisfação. Incide sobre as forças reprodutivas (comer, sexo) e os prazeres da irritabilidade (viagens, guerra). Em outras palavras, o homem normal foge, ele vive fora de si mesmo.

– Para o homem intelectual, a vida é solidão escolhida que enriquece o interior, ele é “autossuficiente” e não tem nada a esperar dos outros. Suas atividades são as de sensibilidade: pensar e contemplar, que são “centro de gravidade que cai dentro de si mesmo”

2 / O que temos:

O homem intelectual deve ter muito pouco porque:

– Ele aprendeu a restringir seus desejos

– Falta de trabalho deixa tempo para pensar

O homem normal baseia sua vida na acumulação, o trabalho que lhe permite aliviar o tédio

3 / O que nós representamos:

Todo mundo tenta evitar o desprezo e humilhação, para obter um parecer favorável dos outros. Portanto a opinião dos outros é prejudicial para a nossa felicidade. O homem sábio deve distinguir entre o valor do que ele é em si mesmo e o julgamento de outras pessoas. A vaidade é a base deste desejo de reconhecimento. Outros não podem fazê-lo feliz.

Em outras palavras, o homem sábio deve viver sozinho, no orgulho de seu próprio valor.

2. A definição de felicidade por Schopenhauer:

Felicidade, segundo Schopenhauer, é medida pelos males que foram evitados, e não pelos prazeres que provamos. Não viver feliz, mas o menos infeliz quanto possível, então. A definição de felicidade, de acordo com Schopenhauer é, portanto, negativa (vide felicidade segundo estoicismo).

3. Para ir mais longe com Arthur Schopenhauer:

Leia – O Mundo como Vontade e Representação (clique na imagem para adquirir)

“O Muro” de Sartre: Resumo / Resenha e Análise

por Emrys Westacott

Jean Paul Sartre publicou o conto O Muro (título francês: Le Mur ) em 1939. Ele acontece na Espanha durante a guerra civil espanhola, que durou de 1936 a 1939. A maior parte da história é retomada descrevendo uma noite passada em uma cela de prisão por três prisioneiros que foram informados de que serão executados na manhã seguinte.

Leia também:

Existencialismo: Liberdade radical e o “eu” de Sartre

RESUMO – O MURO (Jean-Paul Sartre)

O narrador, Pablo Ibbieta, é membro da Brigada Internacional, voluntários progressistas de outros países que foram para a Espanha para ajudar aqueles que estavam lutando contra os fascistas de Franco, em um esforço para preservar a Espanha como uma república.

Junto com outros dois, Tom e Juan, ele foi capturado por soldados de Franco. Tom é ativo na luta, como Pablo; mas Juan é apenas um jovem que passa a ser o irmão de um anarquista ativo.

Na primeira cena, eles são entrevistados de uma forma muito resumida. Eles praticamente não respondem perguntas, embora seus interrogadores parecem escrever muito sobre eles. Pablo é perguntado se ele sabe o paradeiro de Ramon Gris, líder anarquista local. Ele diz que não. Eles são, em seguida, levados para uma cela. Às 8:00 da noite, um oficial vem para dizer-lhes que eles foram condenados à morte e serão executados na manhã seguinte.

Naturalmente, eles passam a noite oprimidos pelo conhecimento de sua morte iminente. Juan está prostrado pela auto-piedade. Um médico belga mantém-los acompanhados para fazer seus últimos momentos “menos difíceis.” Pablo e Tom lutam para chegar a termos com a ideia de morrer em um nível intelectual, enquanto seus corpos denunciam o medo que naturalmente sentem.

Pablo encontra-se encharcado de suor; Tom não pode controlar sua bexiga.

Pablo observa como ser confrontado com a morte altera radicalmente a forma como tudo – objetos familiares, pessoas, amigos, estranhos, memórias, desejos – aparece para ele e sua atitude para com isso. Ele reflete sobre sua vida até este ponto:

Naquele momento eu senti que eu tinha toda a minha vida na minha frente e eu pensei: “É uma maldita mentira.” Ela não valia nada porque foi terminado. Eu me perguntava como eu tinha sido capaz de andar, de rir com as meninas: Eu não teria movido mais que meu dedo mindinho, se eu só tivesse imaginado que iria morrer assim. Minha vida estava na minha frente, fechada, cerrada, como um saco e ainda tudo dentro dela estava inacabado. Por um instante eu tentei julgá-la. Eu queria me dizer, esta é uma bela vida. Mas eu não podia deixar passar julgamento sobre ela; era apenas um esboço; Eu tinha passado o meu tempo falsificando eternidade, eu não tinha entendido nada. Eu não perdi nada: não havia tantas coisas que eu poderia ter perdido, o gosto de camomila ou os banhos que tomei no verão em um pequeno riacho perto de Cadiz; mas a morte tinha desencantado tudo.

A manhã chega, e Tom e Juan são retirados para serem executados. Pablo é interrogado novamente, e foi dito que se ele informasse sobre Ramon Gris sua vida seria poupada. Ele é trancado em uma sala de lavandaria para pensar sobre isso por mais 15 minutos. Durante esse tempo, ele se pergunta por que ele está sacrificando sua vida pela de Gris, e não pode dar nenhuma resposta, exceto que ele deve ser um “tipo teimoso.” A irracionalidade de seu comportamento o diverte.

Perguntado mais uma vez sobre onde Ramon Gris está se escondendo, Pablo dá uma resposta, dizendo aos seus interrogadores que Gris está se escondendo no cemitério local. Soldados são enviados imediatamente, e Pablo espera por seu retorno e sua execução. Um tempo depois, no entanto, ele está autorizado a juntar-se ao corpo de prisioneiros no pátio que não estão à espera de execução, e é dito que ele não vai ser executado, pelo menos não por enquanto. Ele não entende isso até que um dos outros prisioneiros lhe diz que Ramon Gris, tendo passado de seu antigo esconderijo para o cemitério, foi descoberto e morto naquela manhã. Ele reage rindo com tanta força que eu chora.

ANÁLISE: ELEMENTOS NOTÁVEIS ​​DA HISTÓRIA

  • A vida apresentada como ela é experienciada. Como muita literatura existencialista, a história é escrita a partir da perspectiva de primeira pessoa, e o narrador não tem conhecimento para além do presente. Ele sabe o que está experimentando; mas ele não pode entrar na mente de outra pessoa.
  • Ênfase na intensidade da experiência sensorial.  Pablo experimenta frio, calor, fome, escuridão, luzes brilhantes, cheiros, sensualidade, e os rostos cinzentos. Pessoas tremem, suam e urinam. Considerando que filósofos como Platão viam sensações como obstáculos ao conhecimento, aqui elas são apresentadas como avenidas de insights.
  • O desejo de ser, sem ilusões. Pablo e Tom discutem a natureza da sua morte iminente tão brutalmente e honestamente quanto possível, mesmo imaginando as balas afundando na carne. Pablo reconhece para si mesmo como sua expectativa de morte o tornou indiferente à outras pessoas e à causa pela qual ele lutou.
  • O contraste entre a consciência e as coisas materiais. Tom diz que ele pode imaginar o seu corpo deitado inerte crivado de balas; mas ele não pode imaginar-se não existente pois o eu com que se identifica é a sua consciência, e a consciência é sempre consciência de alguma coisa. Como ele diz, “não fomos feitos para pensar isso.”
  • Todo mundo morre sozinho. A morte separa os vivos dos mortos; mas aqueles que estão prestes a morrer também são separados da vida, uma vez que só podem sofrer o que está prestes a acontecer sós. Uma intensa consciência disso coloca uma barreira entre eles e todos os outros.
  • A situação de Pablo é a condição humana intensificada. Como Pablo observa, seus carcereiros também vão morrer muito em breve, apenas um pouco mais tarde do que ele. Viver sob sentença de morte é a condição humana. Mas quando a sentença deve ser realizada em breve, uma intensa consciência da vida se inflama.

O SIGNIFICADO DE “O MURO”

O muro do título pode aludir a várias paredes ou barreiras.

  • O muro contra o qual eles serão executados.
  • O muro que separa a vida da morte.
  • O muro que separa os vivos dos condenados.
  • O muro que separa os indivíduos de outros.
  • O muro que nos impede de alcançar uma compreensão clara do que é a morte.
  • O muro que representa a matéria bruta, o que contrasta com a consciência, e ao qual os homens serão reduzidos após os tiros.

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Cinismo na Filosofia: O que é? Resumo

Definição de cinismo:

Historicamente, o cinismo começou como um movimento filosófico no século 4 aC, que durou até a queda de Roma. Cínicos é o termo usado para chamar seus praticantes.

Ao invés de uma escola de filosofia, cinismo refere-se a um grupo informal de filósofos com certas atitudes e comportamentos não convencionais que ou se chamavam cínicos ou foram chamados por outros.

Um Filósofo Cínico fiel em sua práxis da Filosofia do Cinismo. Ou talvez um mendigo. Ou talvez os dois.

Um Filósofo Cínico em sua práxis da Filosofia do Cinismo. Ou talvez seja um mendigo. Ou talvez os dois.

 

O objetivo do cinismo era atingir arete (grego) ou virtus (romano), uma qualidade que imperfeitamente se traduz por “virtude”. É a força para superar os pensamentos, sentimentos e as circunstâncias de sua vida. Já que Arete era seu objetivo, cínicos desconsideravam convenções sociais e aparência, tornando-os párias: o que teria envergonhado seus contemporâneos não envergonhava os cínicos. A auto-suficiência exigia prática (askesis). Eles precisavam de liberdade e franqueza, que a política anulava. O cinismo clássico é considerado o fundador do anarquismo.

Filósofos cínicos

Antístenes, um associado de Sócrates, é considerado o 1º cínico, fazendo do cinismo um desdobramento do ensino socrático.

O último praticante do cinismo clássico foi Salústio. Outros cínicos são Diógenes de Sinope, Crates de Tebas, Hipárquia e Metrocles de Maroneia, Mônimo de Siracusa, Menipo de Gadara, Bion de Boristene, Cercidas de Megalopolis, Meleagro e Enomau de Gadara, Demétrio de Roma, Demonax de Chipre, Dião Crisóstomo e Peregrinus Proteus.

Exemplo de cinismo: Diógenes de Sínope

Famoso por sua menção elogiosa por Alexandre, o Grande, o ranzinza, Diógenes de Sinope foi chamado kynos – termo grego para o cão – por seu estilo de vida e contrariedade. Foi a partir dessa palavra para o cão que nós temos a palavra cinismo. Diógenes de Sinope, também é conhecido por seu cosmopolitismo, literalmente. Quando perguntado de onde ele era, ele disse que era um cidadão do cosmos (Mundo).

R. Bracht Branham diz que Antístenes ser considerado como o fundador do cinismo foi provavelmente uma invenção antiga; Diógenes, o Cínico foi provavelmente o verdadeiro.


Fontes: Internet Encyclopedia of Philosophy / ThoughtCo

As “Provas da Existência de Deus” de Descartes

De “Meditações sobre a Filosofia Primeira”

por Andrea Borghini

As ‘provas da existência de Deus’ de René Descartes (1596-1650) são uma série de argumentos que ele postula em seu tratado (observação filosófica formal) de 1641, ‘Meditações sobre a Filosofia Primeira’, primeiro aparecendo em “Meditação III de Deus:. Que Ele existe.” e discutida com mais profundidade na “Meditação V: Da essência das coisas materiais, e, novamente, de Deus, que Ele existe.” Descartes é conhecido por estes argumentos originais que esperam provar a existência de Deus, mas filósofos posteriores, muitas vezes criticavam suas provas como sendo demasiado estreitas e com base em “uma premissa muito suspeita” ( Hobbes) que uma imagem de Deus existe dentro da humanidade.

Em qualquer caso, compreender “as provas de existência de Deus” é essencial para compreender o trabalho posterior de Descartes, ‘Princípios da Filosofia’ (1644) e sua ‘Teoria das Ideias’.

A estrutura das Meditações sobre Filosofia Primeira – o subtítulo traduzido diz  “em que a existência de Deus e a imortalidade da alma são demonstradas” – é bastante simples. Ela começa com uma carta de dedicação à “Sagrada Faculdade de Teologia em Paris”, onde ele apresentou originalmente em 1641, um prefácio para o leitor, e, finalmente, uma sinopse das seis meditações que se seguiriam. O resto do tratado é feito para ser lido como se cada Meditação tivesse lugar um dia depois da anterior.

DEDICAÇÃO E PREFÁCIO

Na dedicatória, Descartes implora pela Universidade de Paris para proteger e manter seu tratado e postular o método que espera atribuir a afirmar a alegação da existência de Deus filosoficamente ao invés de teologicamente.

A fim de fazer isso, Descartes postula ele deve fazer um argumento que evita acusações dos críticos de que a prova se baseia no raciocínio circular. Ao provar a existência de Deus a partir de um nível filosófico, ele seria capaz de apelar para os não-crentes também. A outra metade do método se baseia em sua capacidade de demonstrar que o homem é suficiente para descobrir a Deus por conta própria, o que é indicado na Bíblia e outras escrituras religiosas também.

FUNDAMENTOS DO ARGUMENTO

Na preparação da afirmação principal, Descartes discerne que os pensamentos podem ser divididos em três tipos de operações de pensamento: a vontade, paixões e julgamento. Sobre os dois primeiros não pode ser dito serem verdadeiros ou falsos, uma vez que não pretendem representar a forma como as coisas são. Apenas entre juízos, então, podemos encontrar esses tipos de pensamentos que representam algo existente tão fora de nós.

Em seguida, Descartes analisa seus pensamentos novamente para descobrir que são componentes do julgamento, estreitando suas ideias em três tipos: inata, acidental (vinda do exterior) e ficção (produzida internamente). Agora, ideias adventícias poderiam ter sido criadas pelo próprio Descartes. Apesar de não depender de sua vontade, ele pode ter uma faculdade de produzi-las, como a faculdade que produz sonhos. Ou seja, daquelas ideias que são acidentais, podem ser produzidas por nós, mesmo se nós não fazemos isso voluntariamente, como acontece quando estamos sonhando. Ideias fictícias, também, poderiam ter sido claramente criadas pelo próprio Descartes. Destas, estamos mesmo cientes de ter vindo com elas. Ideias inatas, porém, levantam a questão: de onde elas se originaram?

Para Descartes, todas as ideias tem uma realidade formal e objetiva e consistem em três princípios metafísicos.

O primeiro, nada vem do nada, sustenta que, a fim de algo existir, outra coisa deve ter criado-lo. A segunda prende muito o mesmo conceito em torno do formal versus realidade objetiva, afirmando que mais não pode vir de menos. No entanto, o terceiro princípio afirma que a realidade mais objetiva não pode vir de realidade menos formal, limitando a objetividade do eu de afetar a realidade formal dos outros.

Finalmente, ele postula que existe uma hierarquia de seres que podem ser divididos em quatro categorias: os corpos materiais, humanos, anjos e Deus. O único ser perfeito, nesta hierarquia, é Deus com os anjos sendo de “espírito puro” ainda imperfeitos, sendo seres humanos “uma mistura de corpos materiais e espírito, que são imperfeitos”, e os corpos materiais, que são chamados simplesmente imperfeitos.

A PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Com essas teses preliminares na mão, Descartes mergulha em examinar a possibilidade filosófica da existência de Deus na sua terceira meditação.

Ele quebra esta prova em duas categorias, chamadas de provas, cuja lógica é relativamente fácil de seguir.

Na primeira prova, Descartes argumenta que, por evidência, ele é um ser imperfeito que tem uma realidade objetiva incluindo a noção de que existe perfeição e, portanto, tem uma ideia distinta de um ser perfeito (Deus, por exemplo). Além disso, Descartes percebe que ele é menos formalmente real do que a realidade objetiva da perfeição e, portanto, tem que haver um ser perfeito existentindo formalmente de quem sua ideia inata de um ser perfeito deriva. Ele poderia ter criado as ideias de todas as substâncias, mas não a de Deus.

A segunda prova passa a questionar quem é então que o mantém – tendo uma ideia de um ser perfeito – na existência, eliminando a possibilidade de que ele mesmo seria capaz de fazer isso. Ele prova isso dizendo que ele deve isso a si mesmo, se ele fosse seu próprio criador, teria dado a si mesmo todos os tipos de perfeições. O próprio fato de que ele não é perfeito significa que ele não suportaria sua própria existência. Da mesma forma, seus pais, que também são seres imperfeitos, não poderiam ser a causa de sua existência, uma vez que não poderiam ter criado a ideia de perfeição dentro dele. Isso deixa apenas um ser perfeito, Deus, que teria de existir para criar e estar constantemente recriando-a.

Essencialmente, as provas de Descartes contam com a crença de que por existentir, e nascer um ser imperfeito (mas com uma alma ou espírito), deve, portanto, aceitar que algo da realidade mais formal do que nós deve ter nos criado.

Basicamente, porque existimos e somos capazes de pensar ideias, algo deve ter nos criado (como nada pode nascer do nada).


Via ThoughCo

Nominalismo x Realismo e universais x particulares

O mundo é feito de universais e particulares?

por Andrea Borghini

Nominalismo e realismo são as duas posições mais ilustres na metafísica ocidental que tratam da estrutura fundamental da realidade. De acordo com os realistas, todas as entidades podem ser agrupadas em duas categorias: particulares e universais. Nominalistas argumentam que só existem particulares.

COMO REALISTAS COMPREENDEM A REALIDADE?

Realistas postulam a existência de dois tipos de entidades, particulares e universais.

Particulares são elementos semelhantes entre si porque compartilham os universais; por exemplo, cada cão particular tem quatro pernas, latido, e tem uma cauda. Universais também podem assemelhar-se uns aos outros através da partilha de outros universais; por exemplo, sabedoria e generosidade se assemelham em que ambos são virtudes. Platão e Aristóteles estavam entre os mais famosos realistas.

A plausibilidade intuitiva de realismo é evidente. Realismo nos permite levar a sério a estrutura sujeito-predicado do discurso através do qual nós representamos o mundo. Quando dizemos que Sócrates é sábio é porque há tanto Sócrates (o particular) e sabedoria (o universal) e o particular exemplifica o universal.

Realismo também pode explicar o uso que muitas vezes fazemos de referência abstrata. Às vezes qualidades são temas de nosso discurso, como quando eu digo que a sabedoria é uma virtude ou que o vermelho é uma cor. O realista pode interpretar esses discursos como afirmando que há um universal (sabedoria; vermelho) que exemplifica outro universal (virtude; cor).

COMO NOMINALISTAS COMPREENDEM A REALIDADE?

Nominalistas oferecem uma definição radical da realidade: não há universais, apenas particularidades. A ideia básica é que o mundo é feito exclusivamente a partir de particulares e os universais são de nossa própria fabricação. Eles resultam de nosso sistema representacional (a maneira como pensamos sobre o mundo) ou a partir de nossa linguagem (o modo como falamos do mundo).

Devido a isso, o nominalismo é claramente amarrado de uma maneira perto também à epistemologia (o estudo do que distingue crença justificada de opinião).

Se houver apenas particulares, então não há “virtude”, “maçãs”, ou “sexos”. Há, em vez disso, convenções humanas que tendem a agrupar objetos ou ideias em categorias. A virtude só existe porque dizemos que ela existe: não porque há uma abstração universal da virtude. Maçãs só existem como um tipo particular de frutas porque nós, como seres humanos temos categorizado um grupo de frutas particulares de uma maneira particular. Masculinidade e feminilidade, assim, só existem no pensamento humano e na linguagem.

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Os nominalistas mais ilustres incluem filósofos medievais William de Ockham (1288-1348) e John Buridan (1300-1358), bem como o filósofo contemporâneo Willard van Orman Quine.

PROBLEMAS PARA NOMINALISMO E REALISMO

O debate entre os partidários desses dois campos opostos estimulou alguns dos problemas mais intrigantes na metafísica, como o quebra-cabeça do navio de Teseu, o enigma dos 1001 gatos, e o chamado problema da exemplificação (isto é, o problema de como particulares e universais podem ser relacionados entre si). Enigmas como estes que tornam o debate sobre as categorias fundamentais da metafísica tão desafiadores e fascinantes.


Via ThoughtCo

4 Argumentos contra o Relativismo

por Andrea Borghini

Com certeza, há muita evidência favorecendo a autenticidade de uma atitude relativista em uma ampla variedade de situações. O relativismo cultural, o relativismo religioso, o relativismo lingüístico, o relativismo científico, o relativismo se movendo a partir de diferentes perspectivas históricas ou posições sociais diversas: este é apenas o começo de uma lista de fontes que motivam a genuinidade de contrastantes perspectivas sobre um tema específico.

E, no entanto, em algumas ocasiões, pode-se querer resistir à ideia de que a postura relativista é a melhor opção teórica: em alguns casos, apenas parece que um dos pontos de vista contrastantes deve obter mais direito do que os outros. Com que fundamentos poderia tal afirmação ser feita?

Richard Morrell / Getty Images

VERDADE

O primeiro terreno em que uma atitude relativista pode ser resistida é a verdade. Se você aceitar o relativismo, mantendo uma determinada posição, parece que você está minando essa posição. Suponha, por exemplo, que você afirma que o aborto nunca deve ser aprovado, embora concordando que tal julgamento é relativo a sua educação; não está você admitindo que o aborto pode ser razoavelmente endossado por aqueles que tiveram uma educação diferente?

Assim, ao que parece, um relativista está comprometido com a verdade de uma reivindicação X, mantendo ao mesmo tempo que X não pode ser verdade quando contemplado a partir de uma perspectiva diferente. Isso parece uma contradição absoluta.

UNIVERSAL CULTURAL

Um segundo ponto que tem sido enfatizado é a presença de traços universais em diferentes culturas. É verdade que a ideia de uma pessoa, da beleza, do bem, da família ou da propriedade privada diferem entre culturas; mas, se olharmos de perto, podemos também encontrar traços comuns. Dificilmente se pode negar que os seres humanos podem adaptar o seu desenvolvimento cultural para as circunstâncias que têm para se viver.

Não importa quem são seus pais, você pode igualmente aprender Inglês ou Tagalog se você crescer com uma comunidade de falantes nativos de uma ou outra linguagem; idem para as características relativas às habilidades manuais ou corporais, tais como cozinhar ou dança.

TRAÇOS COMUNS NA PERCEPÇÃO

Mesmo quando se trata de percepção, é fácil ver que há um acordo entre diferentes culturas. Não importa de qual cultura seja, é provável que um forte terremoto ou um tsunami feroz vai provocar medo em você; não importa sua formação social, você será movido pela beleza do Grand Canyon. Considerações semelhantes sobre o pôr do sol ou a sensação de desconforto provocada por um quarto com a temperatura de 65 graus Celsius. Embora seja certamente o caso que os diferentes seres humanos têm diferentes experiências das nuances de percepções, também parece haver um núcleo comum compartilhado, com base em que uma posição não-relativista da percepção pode ser construída.

SOBREPOSIÇÃO SEMÂNTICA

O que vai para a percepção vai também para o sentido de nossas palavras, aquilo que é estudado pelo ramo da filosofia da linguagem que sob o nome de semântica. Quando eu digo “picante”, pode não significar exatamente o que você quer dizer; ao mesmo tempo, parece que tem que haver algum tipo de sobreposição de significado se a comunicação é eficaz.

Assim, o que minhas palavras significam não pode ser totalmente em relação a minha própria perspectiva e experiência, sob pena de uma impossibilidade de comunicação.


Via ThoughtCo