Todos os meus movimentos tornaram-se prejudicados … a angústia e o medo, estava aterrorizada o tempo todo. Estava aterrorizada com tudo …
Eu sempre me lembro do controle remoto. (…) lembro-me de olhar para o controle remoto e pensar “posso fazer isso, posso fazer isso” … não, eu não posso, não, eu não posso … Eu não poderia ter esse grau de mudança, não consegui elevar o controle remoto e mudá-lo disso, porque você sabe se eu não pudesse mudar de volta … Não consegui suportar nenhuma alteração.
Distúrbios mentais como angústia e depressão manifestam-se fenomenologicamente. Ou seja, eles se tornam parte da experiência vivida todos os dias, mudando a forma como vemos nossa relação com nós mesmos, outros e o mundo em geral. A relação entre angústia e eu, mundo e outros, é explorada por pensadores fenomenológicos / existencialistas como Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Soren Kierkegaard. Uma interpretação fenomenológica da angústia – ou seja, como algo conscientemente experimentado – baseia-se no argumento de porque a angústia é um fenômeno fundamentalmente existencial (ao contrário de físico ou médico).
Sartre argumentou que a consciência é uma fusão paradoxal de transcendência e facticidade. A facticidade são os aspectos contingentes de nossa existência – coisas como odne nascemos, a que horas e de que pais. A facticidade também inclui todas as escolhas que até agora nos moldaram como a pessoa que somos – quem somos “para os outros”. A transcendência é o aspecto puramente hipotético da nossa existência: o que podemos fazer, mas ainda não nos comprometemos, oferecendo toda uma gama de possibilidades disponíveis para nós a qualquer momento.
Kierkegaard compara a angústia com um tipo de tontura – algo que nos impede e desabilita a tomada de decisão efetiva.
De acordo com Kierkegaard, a angústia surge de uma tensão entre esse aspecto de nós mesmos que sempre está escolhendo, reconstruindo e renovando a nós mesmos (transcendência) e nós mesmos como coisas “para os outros” – como uma coleção de fatos contingentes e escolhidos (facticidade) que fazem de nós o que somos para os outros em qualquer momento. Sob essa visão, a angústia é um fenômeno fundamentalmente existencial: nos revela nossa liberdade radical, lembrando-nos ao mesmo tempo do custo dessa liberdade, ou seja, o que nós queremos é o que nos tornamos.
Esta teoria é corroborada por relatos fenomenológicos da angústia, como o indicado acima. A mulher descreve sua experiência de angústia que se manifesta como “incapaz de suportar qualquer mudança”. Isso se adapta às ideias de Kierkegaard de que a angústia é uma espécie de confronto com a liberdade; que para ser livre – para escolher isso ou aquilo – é sempre, ao mesmo tempo, fundamental e irrevogavelmente mudar quem somos nesse momento.
Essa realização causa o tipo de pânico associado à angústia e ilustrado de forma tão visceral por pinturas como ‘O Grito‘ de Edvard Munch. A capacidade da angústia para nos desativar; para alterar nossa experiência de forma tão dramática que começamos a ver o mundo de forma diferente (tudo é assustador quando você está aterrorizado com tudo), é o que torna a angústia fundamentalmente existencial. Quando experimentamos angústia, não nos sentimos apenas ansiosos; nós estamos ansiosos.