Existencialismo: Liberdade radical e o “eu” de Sartre

A concepção de liberdade de Jean-Paul Sartre coloca o ser humano na linha de frente de sua vida.

Ao contrário de seu antecessor, David Hume, Sartre argumenta que somos livres, mesmo quando sob restrição. Eu poderia, por exemplo, escolher piscar com o meu olho esquerdo em vez de meu direito – mesmo que eu estivesse preso e com uma arma na minha cabeça. Nossas ações realizadas por meio de algo anterior tem influência sobre a nossa liberdade, uma vez que nossas ações podem ser causadas e ainda ser livres (escolher pegar o elevador em vez das escadas pode ser causado por minha crença de que o prédio tem elevador, mas eu opto por entrar nele no entanto).

Mas o ponto de Sartre é ainda mais radical do que isso: imagine que, até este momento, eu tenho levado uma vida antiética: eu tive uma infância instável, recebi uma educação inadequada e caí sob a influência do grupo errado. Eu passei a cometer crimes, mas um dia eu fui pego quebrando um carro e enviado para a prisão. No dia da minha prisão, enquanto eu estou sendo levado para a minha cela, eu posso, ainda, optar por alterar os meus caminhos. Posso optar por parar de quebrar carros e embarcar em uma nova maneira de viver. Nada do meu passado determina meu futuro da mesma forma que o projeto do engenheiro determina a função do objeto. Isto é porque os seres humanos não são meros objetos no mundo, mas agentes conscientes agindo como parte dele e, ao mesmo tempo, no mundo. Nós agimos sobre o mundo através das escolhas que fazemos que, uma vez que não são determinadas por qualquer outra coisa, são livres no sentido mais robusto da palavra.

Sob tal concepção da liberdade não há espaço para um ‘eu’ como um objeto estático. Uma vez que nada determina como agimos, não há ‘nada’ para o qual podemos apontar como um ‘eu’. Sartre diz que a liberdade de consciência infinitamente transborda o ‘eu’ como uma parte estática do mundo. O que ele quer dizer com isso é que nós sempre, em qualquer momento, temos uma infinidade de possibilidades disponíveis para nós. Que uma (ou nenhuma) dessas possibilidades que escolhemos constitui a nossa liberdade. E uma vez que estas possibilidades permanecem abertas para nós, mesmo quando estamos sendo conduzidos para a cela, ou temos uma arma em nossa cabeça, a consciência – e a liberdade radical que ela implica – transcende todas as limitações físicas e históricas.


Via Philosophy Tap

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