4 Livros essenciais do Existencialismo

O Existencialismo (ou Filosofias da existência) é um termo para uma corrente de pensamento que tem filósofos da Europa dos séculos XIX e XX seus nomes mais conhecidos.

O uso do termo é discutível. Alguns dos próprios filósofos chamados de existencialistas recusavam o termo. Sartre disse: “existencialismo? Eu não sei o que é isso.” Contudo, usar o termo existencialismo é útil para classificar e categorizar as filosofias de certos pensadores.

Os livros do existencialismo provavelmente são os livros de filosofia mais conhecidos na cultura geral, fora dos campos acadêmicos. Eles abordam temas como o sentido da vida, liberdade e angústia.

Alguns filósofos que são considerados grandes autores do existencialismo:

  • Søren Kierkegaard (1813-1855)
  • Friedrich Nietzsche (1844-1900)
  • Martin Heidegger (1889-1976)
  • Jean-Paul Sartre (1905-1980)
  • Simone de Beauvoir (1908-1986)
  • Albert Camus (1913-1960)

Vamos ver alguns fundamentais livros sobre o existencialismo.

Søren Kierkegaard – Ou-ou: um fragmento de vida (Either/Or)

Ou-ou: um fragmento de vida foi um dos primeiros livros de Søren Kierkegaard, que escreveu muitas obras sob pseudônimo. Nesse tratado monstruoso (chega a +800 páginas em algumas versões), Kierkegaard compara estética e ética, dois modos de existência radicalmente diferentes.

Kierkegaard segue um pêndulo entre pavor e triunfo, ou / ou, isto ou aquilo. Em dado momento ele chega à uma famosa conclusão:

“Eu vejo tudo perfeitamente; há duas situações possíveis – você pode fazer isso ou aquilo. Minha opinião honesta e meu conselho amigável é este: faça ou não faça – você vai se arrepender de ambos.”

Nietzsche – Assim Falava Zaratustra

Assim Falava Zaratustra (ou Assim Falou Zaratustra) é o livro mais famoso de Friedrich Nietzsche – filósofo que exerceu grande influência em muitos grandes pensadores do século XX.

É no livro Assim Falava Zaratustra que Nietzsche apresenta completamente o seu Übermensch (O Além-homem, Além do Homem ou mesmo Super-Homem).

Nesse livro Nietzsche também prevê que sua obra seria mal entendida e deturpada. Um exemplo disso foi Hitler adotar Nietzsche como filósofo do Nazismo.

Nietzsche não é um filósofo fácil. Apesar de muito vendido, o livro Assim falava Zaratustra talvez devesse ser lido depois de termos uma certa intimidade com a obra do bigode.

“O homem é algo que deve ser superado. O homem é uma corda, amarrada entre a besta e o super-homem – uma corda sobre um abismo. O que é grande no homem é que ele é uma ponte e não um fim.”

Sartre – O Ser e o nada

Jean-Paul Sartre foi, além de filósofo, um escritor de literatura muito famoso. O Ser e o nada é seu livro mais comentada.O tema principal de O Ser e o nada é a liberdade humana, e a fuga dela.

Sartre defende uma liberdade radical e um “eu” diferente do que costumamos pensar. Para ele, o ser humano é condenado a ser livre, e é capaz de construir seus próprios significados.

É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer. (SARTRE, 1973, p. 15).

Albert Camus – O Estrangeiro

Camus é o grande nome do Absurdismo (ou Filosofia do Absurdo). O Absurdo trata de temas como a busca do homem por significado e a irracionalidade da existência, bem expressos em O mito de Sísifo.

Em O Estrangeiro, Meursault é um homem nu diante do absurdo. “A mãe morreu hoje. Ou talvez tenha sido ontem, não sei”.

Anteriormente, era uma questão de descobrir se a vida deveria ou não ter um significado a ser vivido. Agora fica claro, pelo contrário, que será vivida ainda melhor se não tiver significado.


Referências:

Big Think

IEP

SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. Tradução: Vergílio Ferreira. São
Paulo: Abril S.A., 1973.

Kierkegaard x Nietzsche: Deus e o significado da vida

O existencialismo é um humanismo ateísmo?

Grandes nomes do existencialismo também eram ateus: Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus (muitas vezes é classificado como existencialista, apesar do absurdismo, mas isso é outra história…).

O existencialismo (ou as Filosofias da existência) tem como precursor Friedrich Nietzsche – aquele cara bigodudo que disse que Deus está morto.

E há uma certa relação entre existencialismo e niilismo.

No entanto, o fundador do existencialismo, Søren Kierkegaard, tinha como um dos princípios centrais do seu pensamento o cristianismo.

Enquanto a morte de Deus era uma ideia central no pensamento de Nietzsche, a filosofia de Kierkegaard tinha como pilares a necessidade de deus e a .

Sobre o significado da vida

Nietzsche afirma que a falta de significado tem como causa a morte de deus.

Kierkegaard reconhece o absurdo da vida e a dificuldade de encontrar significado para ela, mas defende que esse problema do sentido está relacionado à um excesso de racionalidade.

Kierkegaard precedeu muitos filósofos existencialistas ao dizer que razão e ciência não podem dar valor, significado e propósito à vida. Cabe ao indivíduo decidir o significado da própria vida.

Como encontrar o significado da vida, segundo Kierkegaard?

Olhar para Deus e dar o salto da fé – um pulo do estádio ético para o estádio religioso. Isso oferece significado e equilíbrio. A vida “ética” pode funcionar como uma fuga das escolhas sobre o significado para si mesmo.

Devemos considerar-nos indivíduos, mas reconhecendo o poder que nos constituiu. É um imperativo moral (do qual Deus é parte fundamental) descobrir e viver como si mesmo.

Sempre temos diferentes possibilidades e podemos escolher. Evitar tornar-se si mesmo é estar em desespero – estar em pecado, de acordo com Kierkegaard. Mas as escolhas podem levar à angústia.

“ Se você se casar, vai se arrepender; se você não se casar, também se arrependerá; se você se casar ou não se casar, vai se arrepender de ambos; ria das loucuras do mundo, você vai se arrepender, chore, você também vai se arrepender disso; rir das loucuras do mundo ou chorar por elas, você vai se arrepender de ambos… ”

O Cavaleiro da Fé

O Cavaleiro da Fé de Kierkegaard é um tipo de Ubermensch (O superhomem ou além-homem de Nietzsche), porém cristão. Ele supera a racionalidade e se dedica ao chamado superior de Deus, como no exemplo de Abraão.

Deus ordenou à Abraão que matasse seu próprio filho, o que pode ser considerado antiético. Mas ser um Cavaleiro da Fé é estar além do bem e do mal.

Diferente do herói trágico, cujo sacrifício, apesar de doloroso, pode ser entendido racionalmente, o ato do cavaleiro da fé tipificado por Abraão representa uma decisão que transcende os limites da razão (Costeski e Marques, 2015)

O pensamento de Kierkegaard não deve ser encarado como uma “pregação do cristianismo”. Ele mesmo disse que um “pagão apaixonado” vivia melhor que um cristão que adorava apenas por hábito.

Com certeza é um dos grandes nomes da história da Filosofia e deve ser respeitado como tal.


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Referências:

Big Think. God’s Answer to Nietzsche, the Philosophy of Søren Kierkegaard

Costeski e Marques (2015). Os atributos do cavaleiro da fé em Søren Kierkegaard

A angústia na Fenomenologia Existencial de Kierkegaard

Todos os meus movimentos tornaram-se prejudicados … a angústia e o medo, estava aterrorizada o tempo todo. Estava aterrorizada com tudo …

Eu sempre me lembro do controle remoto. (…) lembro-me de olhar para o controle remoto e pensar “posso fazer isso, posso fazer isso” … não, eu não posso, não, eu não posso … Eu não poderia ter esse grau de mudança, não consegui elevar o controle remoto e mudá-lo disso, porque você sabe se eu não pudesse mudar de volta … Não consegui suportar nenhuma alteração.

Distúrbios mentais como angústia e depressão manifestam-se fenomenologicamente. Ou seja, eles se tornam parte da experiência vivida todos os dias, mudando a forma como vemos nossa relação com nós mesmos, outros e o mundo em geral. A relação entre angústia e eu, mundo e outros, é explorada por pensadores fenomenológicos / existencialistas como Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Soren Kierkegaard. Uma interpretação fenomenológica da angústia – ou seja, como algo conscientemente experimentado – baseia-se no argumento de porque a angústia é um fenômeno fundamentalmente existencial (ao contrário de físico ou médico).

Sartre argumentou que a consciência é uma fusão paradoxal de transcendência e facticidadeA facticidade são os aspectos contingentes de nossa existência – coisas como odne nascemos, a que horas e de que pais. A facticidade também inclui todas as escolhas que até agora nos moldaram como a pessoa que somos – quem somos “para os outros”. A transcendência é o aspecto puramente hipotético da nossa existência: o que podemos fazer, mas ainda não nos comprometemos, oferecendo toda uma gama de possibilidades disponíveis para nós a qualquer momento.

Kierkegaard compara a angústia com um tipo de tontura – algo que nos impede e desabilita a tomada de decisão efetiva.

De acordo com Kierkegaard, a angústia surge de uma tensão entre esse aspecto de nós mesmos que sempre está escolhendo, reconstruindo e renovando a nós mesmos (transcendência) e nós mesmos como coisas “para os outros” – como uma coleção de fatos contingentes e escolhidos (facticidade) que fazem de nós o que somos para os outros em qualquer momento. Sob essa visão, a angústia é um fenômeno fundamentalmente existencial: nos revela nossa liberdade radical, lembrando-nos ao mesmo tempo do custo dessa liberdade, ou seja, o que nós queremos é o que nos tornamos.

Esta teoria é corroborada por relatos fenomenológicos da angústia, como o indicado acima. A mulher descreve sua experiência de angústia que se manifesta como “incapaz de suportar qualquer mudança”. Isso se adapta às ideias de Kierkegaard de que a angústia é uma espécie de confronto com a liberdade; que para ser livre – para escolher isso ou aquilo – é sempre, ao mesmo tempo, fundamental e irrevogavelmente mudar quem somos nesse momento.

Essa realização causa o tipo de pânico associado à angústia e ilustrado de forma tão visceral por pinturas como ‘O Grito‘ de Edvard Munch. A capacidade da angústia para nos desativar; para alterar nossa experiência de forma tão dramática que começamos a ver o mundo de forma diferente (tudo é assustador quando você está aterrorizado com tudo), é o que torna a angústia fundamentalmente existencial. Quando experimentamos angústia, não nos sentimos apenas ansiosos; nós estamos ansiosos.