Nietzsche: Apolíneo e Dionisíaco, entre a razão e o caos

Na filosofia de Nietzsche, os conceitos Apolíneo e Dionisíaco referem-se à dois deuses gregos. Apolo é um deus relacionado à razão e à ordem. Dionísio é um deus relacionado à loucura e caos.

Os conceitos Apolíneo e Dionisíaco são temas centrais no livro O Nascimento da Tragédia, a primeira grande obra de Nietzsche. O filósofo do bigode analisa a cultura e a arte grega a partir dessas duas forças opostas da natureza.

Leia também:

O que Nietzsche quer dizer com Dionisíaco e Apolíneo?

Apolíneo deriva de Apolo, o deus grego do sol, relacionado à ordem, luz, autoconsciência e individuação. O pensamento racional, baseado em estruturas lógicas, é apolíneo.

Do outro lado, dionisíaco deriva de Dionísio, deus das festas e do vinho, relacionado aos instintos naturais. Uma expressão pura do dionisíaco é a música, que não apela para a racionalidade, mas para as emoções.

Os conceitos nietzscheanos dionisíaco e apolíneo são usados em discussões sobre arte, especialmente sobre a tragédia grega. Nietzsche admira a combinação entre apolíneo e dionisíaco. O ideal é a fusão dessas duas forças, que permite utilizar a energia dionisíaca de forma construtiva dentro de uma estrutura apolínea.

Na tragédia Édipo Rei, por exemplo, assuntos temíveis, como a injustiça e a morte, encontram expressão de uma forma ordenada e bela em enredos e diálogos. O público via esses conceitos de forma dionisíaca.

O coro, por meio de desapego e união, explicava as experiências dos personagens e ajudava o público a separar-se de si mesmo e perceber as ideias terríveis de uma forma despersonalizada. Isso permite ao espectador lidar com ideias desagradáveis de uma forma mais leve que a discussão apolínea.

A arte está em declínio quando essa combinação cessa. Nietzsche põe a culpa desse declínio em Eurípedes, que “leva” o espectador para o palco.

Em contraste com Aquiles ou Sófocles, as peças de Eurípedes não se concentravam em heróis trágicos, mas no “homem comum”. Eram dramatizações do cotidiano. Isso permitia ao público fazer julgamento moral sobre os personagens, de um modo que não poderiam fazer com os heróis trágicos.

O legado dos conceitos Apolíneo e Dionisíaco

Os conceitos apolíneo e dionisíaco de Nietzsche, e o próprio livro O Nascimento da Tragédia, não tiveram uma boa recepção a princípio. O próprio autor disse que o livro era mal escrito, pesado e embaraçoso. Contudo, as ideias se tornaram notáveis e são discutidas nos campos da arte, da ética e da política.

Há autores que afirmam a influência dos conceitos apolíneo e dionisíaco na psicanálise. Os conceitos de Nietzsche seriam parecidos com id e superego na teoria de Freud (ou isso e supereu).

Um psicanalista que recorreu amplamente à ideia do dionisíaco foi Otto Gross, considerado um anarquista. Ele defendia um estilo de vida “hedonista” e atividade sexual não reprimida.

Camille Paglia, crítica de arte e cientista social, escreve sobre os conceitos apolíneo e dionisíaco em Sexual Personae. Paglia afirma uma base biológica para a dicotomia apolíneo/dionisíaco. Para ela, “a disputa entre Apolo e Dionísio é a disputa entre o córtex superior e o cérebros límbicos e reptilianos mais antigos”.

Ruth Benedict, antropóloga americana, usou a dicotomia apolíneo/dionisíaco em descrições de diferentes culturas.

Considerações finais

Por mais que a filosofia de Nietzsche seja frequentemente relacionada à valorização dos instintos e crítica da razão, o apolíneo não é rejeitado completamente, como muitos podem pensar. Nietzsche critica, sim, a desvalorização do dionisíaco.

Por mais que Nietzsche tenha criticado sua própria obra (O Nascimento da Tragédia), seus conceitos de apolíneo e dionisíaco permanecem como ideias relevantes em várias áreas, como arte, psicologia e sociedade.

Teremos ganho muito a favor da ciência estética se chegarmos não apenas à intelecção lógica mas à certeza imediata da introvisão de que o contínuo desenvolvimento da arte está ligado à duplicidade do apolíneo e do dionisíaco, da mesma maneira como a procriação depende da dualidade dos sexos, em que a luta é incessante e onde intervêm periódicas reconciliações.

Nietzsche em O Nascimento da Tragédia

Leia mais:


Alexander Gatherer (2014). The Dionysian and the Apollonian in Nietzsche: The Birth of Tragedy.

Friedrich Nietzsche (1992). O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e pessimismo.

Scotty Hendricks (2018). What Nietzsche really meant: The Apollonian and Dionysian.

4 Livros essenciais do Existencialismo

O Existencialismo (ou Filosofias da existência) é um termo para uma corrente de pensamento que tem filósofos da Europa dos séculos XIX e XX seus nomes mais conhecidos.

O uso do termo é discutível. Alguns dos próprios filósofos chamados de existencialistas recusavam o termo. Sartre disse: “existencialismo? Eu não sei o que é isso.” Contudo, usar o termo existencialismo é útil para classificar e categorizar as filosofias de certos pensadores.

Os livros do existencialismo provavelmente são os livros de filosofia mais conhecidos na cultura geral, fora dos campos acadêmicos. Eles abordam temas como o sentido da vida, liberdade e angústia.

Alguns filósofos que são considerados grandes autores do existencialismo:

  • Søren Kierkegaard (1813-1855)
  • Friedrich Nietzsche (1844-1900)
  • Martin Heidegger (1889-1976)
  • Jean-Paul Sartre (1905-1980)
  • Simone de Beauvoir (1908-1986)
  • Albert Camus (1913-1960)

Vamos ver alguns fundamentais livros sobre o existencialismo.

Søren Kierkegaard – Ou-ou: um fragmento de vida (Either/Or)

Ou-ou: um fragmento de vida foi um dos primeiros livros de Søren Kierkegaard, que escreveu muitas obras sob pseudônimo. Nesse tratado monstruoso (chega a +800 páginas em algumas versões), Kierkegaard compara estética e ética, dois modos de existência radicalmente diferentes.

Kierkegaard segue um pêndulo entre pavor e triunfo, ou / ou, isto ou aquilo. Em dado momento ele chega à uma famosa conclusão:

“Eu vejo tudo perfeitamente; há duas situações possíveis – você pode fazer isso ou aquilo. Minha opinião honesta e meu conselho amigável é este: faça ou não faça – você vai se arrepender de ambos.”

Nietzsche – Assim Falava Zaratustra

Assim Falava Zaratustra (ou Assim Falou Zaratustra) é o livro mais famoso de Friedrich Nietzsche – filósofo que exerceu grande influência em muitos grandes pensadores do século XX.

É no livro Assim Falava Zaratustra que Nietzsche apresenta completamente o seu Übermensch (O Além-homem, Além do Homem ou mesmo Super-Homem).

Nesse livro Nietzsche também prevê que sua obra seria mal entendida e deturpada. Um exemplo disso foi Hitler adotar Nietzsche como filósofo do Nazismo.

Nietzsche não é um filósofo fácil. Apesar de muito vendido, o livro Assim falava Zaratustra talvez devesse ser lido depois de termos uma certa intimidade com a obra do bigode.

“O homem é algo que deve ser superado. O homem é uma corda, amarrada entre a besta e o super-homem – uma corda sobre um abismo. O que é grande no homem é que ele é uma ponte e não um fim.”

Sartre – O Ser e o nada

Jean-Paul Sartre foi, além de filósofo, um escritor de literatura muito famoso. O Ser e o nada é seu livro mais comentada.O tema principal de O Ser e o nada é a liberdade humana, e a fuga dela.

Sartre defende uma liberdade radical e um “eu” diferente do que costumamos pensar. Para ele, o ser humano é condenado a ser livre, e é capaz de construir seus próprios significados.

É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer. (SARTRE, 1973, p. 15).

Albert Camus – O Estrangeiro

Camus é o grande nome do Absurdismo (ou Filosofia do Absurdo). O Absurdo trata de temas como a busca do homem por significado e a irracionalidade da existência, bem expressos em O mito de Sísifo.

Em O Estrangeiro, Meursault é um homem nu diante do absurdo. “A mãe morreu hoje. Ou talvez tenha sido ontem, não sei”.

Anteriormente, era uma questão de descobrir se a vida deveria ou não ter um significado a ser vivido. Agora fica claro, pelo contrário, que será vivida ainda melhor se não tiver significado.


Referências:

Big Think

IEP

SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. Tradução: Vergílio Ferreira. São
Paulo: Abril S.A., 1973.

Kierkegaard x Nietzsche: Deus e o significado da vida

O existencialismo é um humanismo ateísmo?

Grandes nomes do existencialismo também eram ateus: Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus (muitas vezes é classificado como existencialista, apesar do absurdismo, mas isso é outra história…).

O existencialismo (ou as Filosofias da existência) tem como precursor Friedrich Nietzsche – aquele cara bigodudo que disse que Deus está morto.

E há uma certa relação entre existencialismo e niilismo.

No entanto, o fundador do existencialismo, Søren Kierkegaard, tinha como um dos princípios centrais do seu pensamento o cristianismo.

Enquanto a morte de Deus era uma ideia central no pensamento de Nietzsche, a filosofia de Kierkegaard tinha como pilares a necessidade de deus e a .

Sobre o significado da vida

Nietzsche afirma que a falta de significado tem como causa a morte de deus.

Kierkegaard reconhece o absurdo da vida e a dificuldade de encontrar significado para ela, mas defende que esse problema do sentido está relacionado à um excesso de racionalidade.

Kierkegaard precedeu muitos filósofos existencialistas ao dizer que razão e ciência não podem dar valor, significado e propósito à vida. Cabe ao indivíduo decidir o significado da própria vida.

Como encontrar o significado da vida, segundo Kierkegaard?

Olhar para Deus e dar o salto da fé – um pulo do estádio ético para o estádio religioso. Isso oferece significado e equilíbrio. A vida “ética” pode funcionar como uma fuga das escolhas sobre o significado para si mesmo.

Devemos considerar-nos indivíduos, mas reconhecendo o poder que nos constituiu. É um imperativo moral (do qual Deus é parte fundamental) descobrir e viver como si mesmo.

Sempre temos diferentes possibilidades e podemos escolher. Evitar tornar-se si mesmo é estar em desespero – estar em pecado, de acordo com Kierkegaard. Mas as escolhas podem levar à angústia.

“ Se você se casar, vai se arrepender; se você não se casar, também se arrependerá; se você se casar ou não se casar, vai se arrepender de ambos; ria das loucuras do mundo, você vai se arrepender, chore, você também vai se arrepender disso; rir das loucuras do mundo ou chorar por elas, você vai se arrepender de ambos… ”

O Cavaleiro da Fé

O Cavaleiro da Fé de Kierkegaard é um tipo de Ubermensch (O superhomem ou além-homem de Nietzsche), porém cristão. Ele supera a racionalidade e se dedica ao chamado superior de Deus, como no exemplo de Abraão.

Deus ordenou à Abraão que matasse seu próprio filho, o que pode ser considerado antiético. Mas ser um Cavaleiro da Fé é estar além do bem e do mal.

Diferente do herói trágico, cujo sacrifício, apesar de doloroso, pode ser entendido racionalmente, o ato do cavaleiro da fé tipificado por Abraão representa uma decisão que transcende os limites da razão (Costeski e Marques, 2015)

O pensamento de Kierkegaard não deve ser encarado como uma “pregação do cristianismo”. Ele mesmo disse que um “pagão apaixonado” vivia melhor que um cristão que adorava apenas por hábito.

Com certeza é um dos grandes nomes da história da Filosofia e deve ser respeitado como tal.


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Referências:

Big Think. God’s Answer to Nietzsche, the Philosophy of Søren Kierkegaard

Costeski e Marques (2015). Os atributos do cavaleiro da fé em Søren Kierkegaard

Amor Fati: O amor ao destino [Nietzsche]

Amor Fati: Significado

Amor fati (tradução: “amor ao destino”) é uma frase em latim que pode ser traduzida como “amor ao destino” ou “amor ao próprio destino”. É usada para descrever uma atitude em que se vê tudo o que acontece na vida, incluindo o sofrimento e a perda, como bom ou, no mínimo, necessário, porque está entre os fatos da vida e da existência, gostemos ou não. Além disso, amor fati é caracterizado por uma aceitação dos eventos ou situações que ocorrem na vida. [1]

Essa aceitação não exclui necessariamente uma tentativa de mudança ou melhoria, mas, ao contrário, pode ser vista na linha do que Friedrich Nietzsche aparentemente queria dizer com o conceito de “eterno retorno“: um senso de satisfação com a vida e uma aceitação disso, de tal modo que uma pessoa poderia viver exatamente a mesma vida, em todos os detalhes minuciosos, repetidamente por toda a eternidade.

Conceito de Amor Fati

O conceito de amor fati foi ligado a Epicteto,[2] e também aos escritos de Marco Aurélio, [3] que não usou as palavras (escreveu em grego, não em latim). [4]

A frase é usada repetidamente nos escritos de Nietzsche e é representativa da visão geral da vida que ele articula na seção 276 de A Gaia Ciência:

Quero aprender cada vez mais a considerar como belo o que há de necessário nas coisas: – assim serei daqueles que tornam belas as coisas. Amor Fati: que esse seja doravante meu amor. Não quero mover guerra à feiúra. Não quero acusar, não quero acusar nem mesmo os acusadores. Desviar meu olhar, que seja essa minha única negação! E, numa palavra, para ver grande: só quero ser um dia afirmador!

É importante notar que Nietzsche, neste contexto, refere-se ao “dizedor de sim”, não em um sentido político ou social, mas como uma pessoa que é capaz de intransigente aceitação da realidade per se.

Citação de “Porque sou tão sagaz” em Ecce Homo, seção 10: [5]

A minha fórmula para a grandeza do homem é amor fati: nada pretender ter de diferente, nada para a frente, nada para trás, nada por toda a eternidade. O necessário não é apenas para se suportar, menos ainda para se ocultar – todo o idealismo é mentira perante o necessário – mas para o amar…

Além disso, o espírito de aceitação de Nietzsche ocorre no contexto de sua radical aceitação do sofrimento. Pois amar o que é necessário exige não só que amemos o mal juntamente com o bem, mas que vejamos os dois como indissoluvelmente ligados. Na seção 3 do prefácio de A Gaia Ciência, ele escreve: [6]

Só o grande sofrimento é o derradeiro libertador do espírito … Duvido muito que semelhante sofrimento nos torne “melhores”; – mas sei que nos torna mais profundos.

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Referências

  1. “Amor Fati: The Formula for Human Greatness”. Daily Stoic.
  2. Manual de Epicteto Cap. VIII: “Não procure que as coisas aconteçam do jeito que você quer; em vez disso, deseje que o que acontece aconteça do jeito que acontece: então você será feliz.”— como citado em Pierre Hadot (1998), The Inner Citadel: The Meditations of Marcus Aurelius, p. 143.
  3. Meditações IV.23: “All that is in accord with you is in accord with me, O World! Nothing which occurs at the right time for you comes too soon or too late for me. All that your seasons produce, O Nature, is fruit for me. It is from you that all things come: all things are within you, and all things move toward you.” — como citado em Hadot (1998), p. 143.
  4. “An Interview with the Master: Robert Greene on Stoicism”. Daily Stoic.
  5. Basic Writings of Nietzsche. Walter Kaufmann (1967), p. 714.
  6. Leiter, Brian (2015-01-01). Zalta, Edward N., ed. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2015 ed.).

Via Wikipedia.

O Homem não quer Felicidade, diz Nietzsche

O que Nietzsche fala sobre Felicidade?

Todo mundo quer ser feliz, certo? Quem não? Claro, você pode não querer sacrificar tudo por prazer, mas você certamente quer se divertir. Há uma enorme quantidade de drogas no mercado para resolver os problemas de depressão, e os métodos para alcançar a felicidade muitas vezes são vendidos e anunciados como algo que você pode começar, e o que você deseja acima de tudo.

A busca da felicidade é tão essencial para a nossa ideia da boa vida que foi declarada sendo um direito inalienável por Thomas Jefferson. Ele resume o sonho americano como nenhuma outra ideia. Para muitas pessoas é o sentido da própria vida. É difícil para algumas pessoas imaginar que há uma maneira de pensar que sugere que você não quer, pelo menos, tentar ser tão feliz como você pode ser.

Bem, há um filósofo que não acha que você quer a felicidade em si. Friedrich Nietzsche.

Nietzsche viu a mera busca da felicidade, aqui definida como aquilo que dá prazer, como um desperdício sem graça da vida humana. Declarando: “ A humanidade não se esforça para a felicidade; apenas o inglês o faz”, fazendo referência a filosofia inglesa do utilitarismo, e seu foco na felicidade total. Uma filosofia que ele rejeitou com a sua parábola do “Último homem“, um ser patético que vive num tempo em que a humanidade “inventou a felicidade“.

Os últimos homens? Na mente de Nietzsche eram felizes, mas sem brilho. 

Nietzsche estava dedicado à ideia de encontrar sentido na vida. Ele sugeriu o Ubermensch (O Superhomem ou Além do Homem), e sua criação de sentido na vida, como uma alternativa para o último homem, e ofereceu-nos a ideia de pessoas que estavam dispostas a empreenderem um grande sofrimento em nome de um objetivo que eles criaram, como exemplos. Podemos imaginar que Michelangelo achou agradável pintar do teto da Capela Sistina? Nikola Tesla declarou que seu celibato era necessário para o seu trabalho, mas queixou-se de sua solidão toda a sua vida.

Essa é a felicidade? Se essas grandes mentes quisessem felicidade em si mesma, teriam feito o que fizeram?

Não, diz Nietzsche. Em vez disso, eles escolheram perseguir significado, e encontraram. Isto é o que as pessoas realmente querem.

A Psicologia muitas vezes concorda. O psicólogo Victor Frankl sugeriu que a chave para a boa vida é encontrar significado, indo tão longe a ponto de sugerir significados positivos para o sofrimento de seus pacientes para ajudá-los a seguir em frente. Suas ideias, publicadas no best-seller Em Busca de Sentido, foram inspiradas por seu tempo em um campo de concentração e suas notas sobre como as pessoas que sofrem horrores inimagináveis foram capazes de continuar através do significado, ao invés da felicidade.

Há também uma questão de matemática utilitarista aqui para Nietzsche. Em sua mente, aqueles que fazem grandes coisas sofrem muito. Aqueles que fazem coisas pequenas sofrem trivialmente. Nesse caso, se alguém tentasse fazer cálculos utilitários, seria difícil, se não impossível, encontrar um cenário onde a felicidade líquida é muito grande. É por isso que o último homem é tão maçante; as únicas coisas que lhe concedem um grande retorno líquido de felicidade são assuntos bastante maçantes, e não as atividades indutoras de sofrimento que iríamos achar interessantes.

Este problema é chamado de “o paradoxo da felicidade”. Atividades que são feitas para aumentar diretamente o prazer não são suscetíveis de ter um alto retorno. Nietzsche compreendeu este problema e deu voz quando ele disse que “A alegria acompanha, a alegria não se move”. Uma pessoa que gosta de colecionar selos não faz porque isso a faz feliz, mas porque ela acha interessante. A felicidade é um efeito colateral. Uma pessoa que sofre por anos fazendo uma obra-prima não é feita feliz por ela, mas encontra alegria na beleza criada após o fato.

Claro, há oposição à ideia de Nietzsche. O grande pensador Inglês Bertrand Russell condena Nietzsche em sua obra A História da Filosofia Ocidental (adquira aqui). A maior entre suas críticas à Nietzsche é que ele viu como uma brutalidade e abertura ao sofrimento, e ele comparou as ideias de Nietzsche contra as do compassivo Buda, visando Nietzsche gritando:

“Por que ir a chatear porque as pessoas triviais sofrem? Ou, porque grandes homens sofrem? As pessoas triviais sofrem de forma trivial, os grandes homens sofrem muito, e grandes sofrimentos não devem ser arrependidos, porque são nobres. Seu ideal é puramente negativo, ausência de sofrimento, que pode ser completamente garantida pela inexistência. Eu, por outro lado, tenho ideais positivos: admiro Alcibíades, o imperador Frederico II e Napoleão. Por causa de tais homens, qualquer miséria vale a pena”.

Russell, cujas interpretações de Nietzsche eram menos do que precisas e que sofria de ter más traduções para trabalhar, viu sua filosofia como o trampolim para o fascismo, e como sendo focada na dor.

Então, enquanto você pode valorizar algo acima de felicidade, o quanto você está disposto a sofrer para obtê-lo? Nietzsche argumenta que você vai desistir de tudo por um valor maior. Outros ainda discordam. Você é mesmo capaz de buscar a felicidade e recebê-la? Ou Nietzsche está correto que você deve se concentrar em outros lugares, em significado, a fim mesmo de esperar a satisfação mais tarde?


Sugestão:


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Por Scotty Hendricks

Via Big Think.

Nietzsche: Moral do senhor x Moral de escravos

Moral do senhor e moral dos escravos / Moralidade mestre-escravo

Esses conceitos de Friedrich Nietzsche que tem grande importância em suas obras, em especial em Genealogia da Moral.


Nietzsche argumentou que haviam dois tipos fundamentais de moralidade: moral do senhor (moralidade mestre ou moral nobre) e moral de escravos (moral de rebanho). A moralidade do senhor valoriza o orgulho, força e nobreza, enquanto a moral dos escravos valoriza coisas como a bondade, humildade e simpatia. Moralidade mestre pesa ações em uma escala de conseqüências boas ou más (ou seja, virtudes clássicas e vícios, o consequencialismo), ao contrário da moral de escravos que pesa ações em uma escala de boas ou más intenções (por exemplo, virtudes e vícios cristãos, deontologia kantiana).

Para Nietzsche, uma moral particular é inseparável da formação de uma cultura particular, o que significa que a linguagem, códigos de uma cultura e práticas, narrativas e instituições são orientadas pela luta entre estas duas estruturas morais.

Conteúdo

  • Moral do senhor
  • Moral de escravos
  • Sociedade
  • Veja também
  • Notas
  • Referências

Moral do Senhor

Nietzsche definiu moral do senhor como a moral da força de vontade. Nietzsche critica a visão, que ele identifica com a ideologia contemporânea britânica, de que o bem é tudo o que é útil, e mau é tudo o que é prejudicial. Ele argumenta que proponentes dessa visão esqueceram as origens de seus valores, e baseiam-se apenas em uma aceitação acrítica do hábito: o que é útil sempre foi definido como bom, portanto utilidade é a bondade como um valor. Ele continua explicando, que no estado pré-histórico, “o valor ou sem valor de uma ação foi derivado de suas consequências”,[1]  mas em última análise, “Não existem fenômenos morais em absoluto, apenas interpretações morais de fenômenos.” [2] Para os homens de temperamento forte, o ‘bom’ é o nobre, forte e poderoso, enquanto o ‘mau’ é o fraco, covarde, tímido, e mesquinho.

A essência da moralidade mestre é nobreza. Outras qualidades que muitas vezes são valorizadas na moralidade mestre são abertura de espírito, coragem, honestidade, confiança e um senso exato de sua auto-estima. Moralidade do senhor começa no ‘homem nobre’ com uma ideia espontânea do bom, então a ideia de mau se desenvolve como o que não é bom. “O tipo nobre de homem experimenta-se como a determinação dos valores, que não precisam de aprovação; ele julga, ‘o que é prejudicial para mim é prejudicial em si’.” [3] Neste sentido, a moral mestre é o reconhecimento completo que se representa a medida de todas as verdades morais. Na medida em que algo é útil para o homem de temperamento forte, é parecido com o que ele valoriza em si mesmo; Portanto, os valores do homem de vontade forte são coisas tão boas porque ajudam-o em um processo ao longo da vida de auto-realização através da vontade de poder.

 

Moral de escravos

Os mestres ou senhores são criadores de moralidade; escravos respondem à moralidade mestre com sua moralidade escrava. Ao contrário da moral do senhor que é sentimento, a moral de escravos é baseada em re-sentimento – desvalorizando o que o mestre valora e o escravo não possui. Como a moral do senhor se origina no forte, a moral escrava tem origem no fraco. Devido ao fato de a moral de escravos ser uma reação à opressão, ela  vilipendia seus opressores. Moral de escravos é o inverso da moral do senhor. Como tal, ela é caracterizada pelo pessimismo e cinismo. Moral dos escravos é criada em oposição ao que os valores da moral mestre consideram como ‘bom’.

Moral de escravos não visa exercer sua vontade pela força mas pela cuidadosa subversão. Ela não procura transcender os mestres, mas torná-los escravos também. A essência da moral dos escravos é a utilidade[4] o bem é o que é mais útil para toda a comunidade, não o forte. Nietzsche viu isso como uma contradição. Desde que os poderosos são em número reduzido em comparação com as massas dos fracos, o fraco ganha poder por corromper o forte em acreditar que as causas da escravidão são ‘más’, como são qualidades que originalmente não poderia escolher por causa de sua fraqueza. Ao dizer que a humildade é voluntária, a moral dos escravos evita admitir que sua humildade era no princípio imposta por um mestre. Princípios bíblicos como dar a outra face, a humildade, a caridade e a piedade são o resultado de universalizar a situação do escravo para toda a humanidade e, portanto, escravizar os mestres também. “O movimento democrático é o herdeiro do Cristianismo.” [5] – a manifestação política da moral dos escravos por causa de sua obsessão com liberdade e igualdade.

Sociedade

Esta luta entre moral do senhor e moral dos escravos se repete historicamente. De acordo com Nietzsche, antigas sociedades gregas e romanas foram fundamentadas na moralidade mestre. O herói homérico é o homem de temperamento forte, e as raízes clássicas da Ilíada e Odisséia exemplificam a moralidade mestre de Nietzsche. Ele chama os heróis de “homens de uma cultura nobre”, [7] dando um exemplo substantivo da moralidade do senhor. Historicamente, a moral dos mestres foi derrotada quando a moral de escravos do Cristianismo se espalhou por todo o Império Romano.

A luta essencial entre culturas tem sido sempre entre a romana (mestre, forte) e da Judéia (escrava, fraca). Nietzsche condena o triunfo da moral dos escravos no Ocidente, dizendo que o movimento democrático é a “degeneração coletiva do homem“. [8] Ele afirmou que o movimento democrático nascente do seu tempo era essencialmente servil e fraco. Fraqueza conquistando força, escravo conquistado mestre, re-sentimento conquistando sentimento. Nietzsche chama esse ressentimento de “vingança sacerdotal”, [9] que se baseia no ciumento fraco procurando escravizar o fortes e, assim, minar a base para o próprio poder puxando o poderoso para baixo. Tais movimentos eram, de acordo com Nietzsche, inspirados pela “vingança mais inteligente” dos fracos. Nietzsche viu a democracia e cristianismo com o mesmo impulso castrador que procurou fazer com que todos fossem iguais, fazendo de todos escravos.

Nietzsche não acreditava necessariamente que todos deveriam adotar a moralidade do senhor como o comportamento de “ser tudo, acabar com todos”. Ele pensava que a reavaliação da moral seria corrigir as inconsistências em ambas as moralidades, de mestre e de escravos. Mas ele afirmou que para o indivíduo, a moralidade do senhor era preferível à moral dos escravos. Walter Kaufmann concorda que Nietzsche realmente preferia a moral mestre em relação à moral escrava. Ele certamente dá à moral de escravos uma crítica mais profunda, mas isso é em parte porque ele pensou na moral de escravos como o perigo mais iminente da sociedade.


Veja também


Notas

  1. Nietzsche 1973, p. 62.
  2. Nietzsche 1973, p. 96.
  3. Nietzsche, Friedrich (1967). On The Genealogy of Morals. New York: Vintage Books. p. 39. ISBN 0-679-72462-1.
  4. Nietzsche 1973, p. 122.
  5. Nietzsche 1973, p. 125.
  6. Nietzsche 1973, p. 118.
  7. Nietzsche 1973, p. 153.
  8. Nietzsche 1973, p. 127.
  9. Nietzsche, Friedrich (1967). On The Genealogy of Morals. New York: Vintage Books. p. 19. ISBN 0-679-72462-1.

Referências 

  • Nietzsche, Friedrich (1973). Beyond Good and Evil. London: Penguin Books. ISBN 978-0-14-044923-5.
  • Solomon, Robert C.; Clancy Martin (2005). Since Socrates: A Concise Sourcebook of Classic Readings. London: Thomson Wadsworth. ISBN 0534633285.

Via Wikipedia.

Nietzsche e o Niilismo: Entenda de uma vez por todas

por Austin Cline

Há um equívoco comum de que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche era um niilista. Você pode encontrar essa afirmação na literatura popular e acadêmica, ainda que tão generalizada quanto é, não é realmente um retrato preciso de seu trabalho. Nietzsche escreveu muito sobre o niilismo, é verdade, mas foi porque ele estava preocupado com os efeitos do niilismo sobre a sociedade e a cultura, não porque ele defendeu o niilismo.

Mesmo assim, talvez seja um pouco simplista. A questão de se Nietzsche realmente defendeu o niilismo ou não depende em grande parte do contexto: a filosofia de Nietzsche é um alvo em movimento porque ele tinha tantas coisas diferentes para dizer em tantos assuntos diferentes, e nem tudo o que ele escreveu é perfeitamente consistente com todo o resto.

Leia também: Niilismo: Origens, Filósofos, Livros, Nietzsche, Ateísmo e Violência

NIETZSCHE É UM NIILISTA?

Nietzsche poderia ser categorizado como um niilista no sentido descritivo porque ele acreditava que não havia mais nenhuma substância real para os valores tradicionais sociais, políticos, morais e religiosos. Ele negou que esses valores tivessem alguma validade objetiva ou que nos impusessem obrigações vinculativas. Na verdade, ele mesmo argumentou que eles poderiam às vezes ter consequências negativas para nós.

Muitos, se não a maioria, provavelmente não o admitiriam, mas Nietzsche viu que os valores antigos e a velha moral simplesmente não tinham o mesmo poder que uma vez tiveram. É aqui que ele anunciou a “morte de Deus, argumentando que a fonte tradicional do valor supremo e transcendental, Deus, não importava mais na cultura moderna e estava efetivamente morta para nós.

Descrever o niilismo não é o mesmo que defender o niilismo, então há algum sentido em dizer que Nietzsche fez o último? De fato, ele poderia ser descrito como um niilista em um sentido normativo porque considerava a “morte de Deus” como sendo, em última instância, uma coisa boa para a sociedade. Como mencionado acima, Nietzsche acreditava que os valores morais tradicionais, e em particular aqueles que decorrem do cristianismo tradicional, eram prejudiciais para a humanidade. Assim, a remoção de seu principal suporte deve levar a sua queda – e isso só pode ser uma coisa boa.

Leia: 12 Frases de Nietzsche sobre Jesus Cristo e Cristianismo

COMO NIETZSCHE PARTE DO NIILISMO

É aqui, no entanto, que Nietzsche parte do niilismo. Os niilistas observam a morte de Deus e concluem que, sem qualquer fonte perfeita de valores absolutos, universais e transcendentes, não pode haver valores reais. Nietzsche, no entanto, argumenta que a falta de tais valores absolutos não implica a ausência de qualquer valor.

Pelo contrário, ao se libertar das cadeias que o amarram a uma única perspectiva normalmente atribuída a Deus, Nietzsche é capaz de dar uma audiência justa aos valores de muitas perspectivas diferentes e até mutuamente exclusivas. Ao fazê-lo, ele pode concluir que esses valores são “verdadeiros” e apropriados para essas perspectivas, mesmo que possam ser inadequados e inválidos para outras perspectivas.

Na verdade, o grande “pecado” dos valores cristãos e dos valores das Iluminações é, pelo menos para Nietzsche, a tentativa de fingir que são universais e absolutos, em vez de situados em algum conjunto particular de circunstâncias históricas e filosóficas.

Nietzsche pode realmente ser bastante crítico do niilismo, embora nem sempre seja reconhecido. Em Vontade de Poder [comprar], podemos encontrar o seguinte comentário: “O niilismo é (…) a crença de que tudo merece perecer”. É verdade que Nietzsche, em sua filosofia, derrubou muitos pressupostos e crenças preciosas. Mas ele não se junta aos niilistas porque não argumentou que tudo merece ser destruído. Ele não estava simplesmente interessado em derrubar crenças tradicionais baseadas em valores tradicionais; em vez disso, ele também queria ajudar a criar novos valores.

Ele apontou na direção de um “superhomem” que poderia construir seu próprio conjunto de valores independentemente do que qualquer outro pensava.

Nietzsche foi certamente o primeiro filósofo a estudar muito o niilismo e a tentar levar suas implicações a sério, mas isso não significa que ele era um niilista no sentido que a maioria das pessoas entende com o rótulo. Ele pode ter tomado o niilismo a sério, mas apenas como parte de um esforço para fornecer uma alternativa ao vazio que ele ofereceu.

Assista ao vídeo sobre o “Ubermensch” e se inscreva no nosso Canal de Filosofia no Youtube:

O Super-homem de Nietzsche: Morte de Deus, Niilismo e Nazismo [Vídeo]

O 1º vídeo do nosso canal de Filosofia no Youtube tá no ar! O tema é o Super-homem de Nietzsche (Ubermensch).

No vídeo explicamos o conceito de Ubermensch, também de chamado de “Super-homem” nietzschiano, Além-homem, Além do homem e Overman. Além disso explicamos a relação do Ubermensch da Filosofia de Nietzsche com a Morte de Deus, Niilismo e com os nazistas!

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